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PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO: UMA REALIDADE BRASILEIRA
ROBSON DIAS MARTINS
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
BIBLIOTECA DE ENGENHARIA
RUA SÃO FRANCISCO XAVIER, 524 SALA 5002 5º ANDAR BLOCO
C MARACANA RIO DE JANEIRO BRASIL CEP. 20550-013
E-MAIL. CTCB@UERJ.BR OU RDIAS@UERJ.BR OU
RABISKIN@HOTMAIL.COM
�RESUMO: Esse trabalho pretende demonstrar a mudança comportamental do
bibliotecário durante o Século XX, desde o profissional considerado como
"guardião de livros" no início do século até o moderno profissional da informação,
voltado para o gerenciamento de unidades de informação e inserido nas novas
tecnologias de informação.
PALAVRAS-CHAVE: bibliotecário, perfil do bibliotecário, moderno profissional da
informação.
1 - INTRODUÇÃO
Podemos verificar uma mudança no perfil do bibliotecário brasileiro, no século XX,
desde o surgimento do primeiro curso de biblioteconomia no país, realizado na
Biblioteca Nacional, em 1910, até os dias atuais com o advento das novas
tecnologias informacionais e novas técnicas de gerenciamento, alterando assim, o
perfil
desse
profissional
no
decorrer
do
século.
Verificamos como relata GUIMARÃES (1997) que, do início do século XX até a
década de 30, o bibliotecário possuía uma visão humanista, ligada à cultura e às
artes, sob forte influência francesa, devido à origem do curso de biblioteconomia
estar ligada a École Nationale des Chartes, em Paris. Assim, os profissionais de
biblioteconomia tinham seu papel reduzido a vigiar coleções de manuscritos, de
livros e de outros impressos. As bibliotecas eram restritas às instituições
religiosas, coleções particulares ou de instituições de ensino ou públicas.
�Na década de 30, ele passa a receber uma formação mais técnica sob influência
norte-americana,
devido
à
criação
dos
primeiros
cursos
paulistas
em
biblioteconomia direcionados ao ensino técnico, originados da School of Library
Economy, fundada por Melvil Dewey na cidade de Columbia, em Nova York.
Nessa década, foi fundada também a primeira associação de bibliotecários, a
Associação Paulista de Bibliotecários, que visava entre outras coisas uma
participação efetiva dos bibliotecários a fim de um reconhecimento profissional
dentro da sociedade. Contudo, seu perfil ainda era considerado de um "guardião
de livros".
Na década de 50, aconteceu o primeiro congresso na área - Congresso Brasileiro
de Biblioteconomia, realizado em Recife, em 1954, originando uma maior
participação dos profissionais e uma educação continuada da categoria.
Na década de 60, a profissão passa a ser reconhecida oficialmente em nível
superior, sendo estabelecida uma legislação profissional e sendo criados os
primeiros órgãos de classe, como cita Guimarães (1997). "Assim, o bibliotecário
que antes exercia sua profissão de forma isolada e sem respaldo legislativo passa
a trabalhar de forma mais participativa dentro da sociedade".
Na década de 70, são criados os primeiros cursos de pós-graduação,
desenvolvendo assim, a pesquisa e o surgimento dos primeiros periódicos
nacionais voltados para biblioteconomia e ciência da informação: Ciência da
Informação (publicado pelo IBICT); Revista da Escola de Biblioteconomia da
UFMG (publicada pela UFMG)); Revista Brasileira de Biblioteconomia e
�Documentação (publicada pela Federação Brasileira de Associações de
Bibliotecários) e Revista de Biblioteconomia de Brasília (publicada pela Unb e
Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal), aumentando a disseminação da
informação dentro da área.
Na década de 80, com a reformulação curricular nos cursos de biblioteconomia, o
bibliotecário passa a ter um perfil de agente cultural e de informação,sendo
direcionado a entidades educacionais e, muitas vezes, atuando como educador.
No início da década de 90, com o crescimento editorial e com o avanço das novas
tecnologias de informação,ele passa a ser um profissional da informação e, nesse
momento, ele torna-se o "Moderno Profissional da Informação" também conhecido
como MIP, sendo considerado um "Gerente Informacional".
2 - PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO TRADICIONAL
Conforme Castro (2000), podemos verificar alguns aspectos do perfil do
bibliotecário tradicional, tais como:
Demasiada atenção às técnicas biblioteconômicas
Atitudes gerenciais ativas
Desenvolvimento
de
práticas
profissionais
bibliotecas, centro de documentação
em
espaços
determinados:
� Tratamento e disseminação de informação impressa em suportes tradicionais
Espírito crítico e bom senso
Atendimento real ao usuário
Uso tímido das tecnologias de informação (ou nenhum tipo de uso de
tecnologia)
Domínio de línguas estrangeiras (ou nenhum conhecimento de outro idioma)
Práticas interdisciplinares pouco representativas
Pesquisas centradas nas abordagens quantitativas
Estudo das necessidades de informação dos usuários e avaliação de coleções
de bibliotecas
Relação biblioteca e sociedade
Domínio acentuado nos saberes biblioteconômicos
Planejamento e gerenciamento de bibliotecas e centros de documentação
Preocupação no armazenamento e conservação das coleções de documentos e
objetos
Educação continuada esporádica
Treinamento em recursos bibliográficos
Tímida
participação
em
políticas
sociais,
educacionais,
científicas
e
�tecnológicas
Personalidade
tímida,
pouco
comunicativo,
com
atitudes
retrógradas,
necessidade de restringir o acesso às informações e inseguro nas tomadas de
decisões.
Enfim, podemos verificar que o perfil do bibliotecário tradicional divide-se em três
partes distintas:
1) Visto como um preservador - aquele profissional que atua como organizador do
conhecimento registrado para garantir seu acesso, ou seja, aquele profissional
que limita-se a guardar o seu acervo e disponibilizá-lo o menos possível. Esse
profissional possui características de manipular a informação ao invés de
disseminá-la;
2) Visto como um educador - ele age como professor, fornecendo informações e
preparando os indivíduos para buscá-la de forma autônoma, ou seja, devido
principalmente à falta de uma estrutura educacional eficiente, esse profissional
torna-se um "professor," substituindo quem deveria exercer a função de professor;
3) Como agente social - onde ele deve ser um comunicador, organizador da
informação para sua recuperação, medidor de informações entre o acervo e o
público, pesquisador, educador, líder, gerente etc.
3 - PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO MODERNO
�Em 1991, a Federação Internacional de Informação e Documentação (FID) criou o
Grupo de Interesse Específico sobre Papéis, Carreiras e Desenvolvimento do
Moderno Profissional da Informação (SIG FID/MIP), envolvendo profissionais das
áreas de biblioteconomia, arquivologia, museologia e administração, realizando
uma pesquisa mundial entre esses profissionais para identificar seu perfil.
Segundo Arruda (2000), essa pesquisa desponta a tecnologia como propulsora
das principais modificações no perfil desses profissionais, seguida por elementos
de gestão organizacional e do trabalho, tais como: identificação do trabalho,
aumento da responsabilidade individual, influência no mercado internacional e da
competitividade. Assim, verificamos que a inserção das novas tecnologias, bem
como novas formas de gerenciamento transformaram o perfil do bibliotecário.
Atualmente, algumas qualificações são necessárias na formação desses
bibliotecários, tais como:
Domínio das tecnologias de informação
Aquisição de mais de um idioma
Capacidade de comunicação e de relacionamento interpessoal
Capacidade gerencial e administrativa
Administração estratégica
Educação continuada
� Planejamento estratégico
Adaptabilidade social
Visão interna e externa do ambiente
Gestão participativa envolvendo todos os funcionários da unidade de
informação
Tomada de decisões compartilhadas
Trabalhar em equipe de forma globalizada e regionalizada
Deve ser participativo, flexível, inovador, criativo, delegar poderes facilitando a
interação entre os níveis hierárquicos e a comunicação entre eles.
Segundo Castro (2000), podemos verificar alguns aspectos do perfil do
bibliotecário moderno, tais como:
Atenção às técnicas biblioteconômicas e documentais
Atitudes gerenciais pró-ativas
Desenvolvimento de atividades em espaços onde haja necessidade de
informação
Tratamento e disseminação de informação, independente do suporte físico
Espírito crítico e bom senso
Atendimento real e/ou virtual aos clientes
� Profundo conhecedor dos recursos informacionais disponíveis e das técnicas de
tratamento da documentação com domínio das tecnologias mais avançadas
Domínio de línguas estrangeiras
Ativas práticas interdisciplinares
Fusão entre as abordagens qualitativas e quantitativas
Estudo das necessidades de informação dos clientes e avaliação dos recursos
dos sistemas de informação
Relação informação e sociedade
Domínio dos saberes biblioteconômicos e áreas afins
Planejamento e gerenciamento de sistemas de informação
Preocupação na análise, comunicação e uso da informação
Intenso processo de Educação continuada
Treinamento em recursos informacionais
Ativa participação nas políticas sociais, educacionais, científicas e tecnológicas
Já para Marshall et al. (1996) apud Santos (2000), que apontou no relatório anual
de 1996 ao Comitê Especial de Competências da SLA - Special Librarian
Association "...as competências profissionais do bibliotecário moderno estão
relacionadas ao seu conhecimento nas áreas de recursos de informação, acesso
de informação, tecnologia, administração e pesquisa e, na habilidade para o uso
�destas áreas de conhecimento como base provedora da biblioteca e dos serviços
de informação" e, suas competências pessoais "englobam um jogo de habilidades,
atitudes e valores que permitem bibliotecários realizar um trabalho eficaz".
Exigindo assim, conforme Santos (2000) relata, "uma boa comunicação, interesse
especial na educação continuada ao longo da carreira".
Para Amaral (1998), o bibliotecário moderno deve se destacar nos seguintes
enunciados:
Ser um investigador permanente, pesquisando novos nichos de mercado da
informação.
Inovar as técnicas de segmentação do mercado.
Identificar o novo perfil do consumidor.
Buscar novos produtos que propiciem vantagens em relação à concorrência.
Criar e manter serviços personalizados aos usuários/clientes.
Posicionar produtos e serviços em condições compatíveis com a imagem da
unidade de informação.
Entender novos modelos de distribuição no ambiente eletrônico.
Conhecer o novo papel da comunicação, interagindo com os profissionais desta
área.
Descobrir o modelo ideal para promover os produtos e serviços oferecidos.
� Aprimorar o relacionamento com a clientela.
Visualizar modalidades para estabelecer parcerias com a comunidade, governo,
órgãos de classe, agências de fomento e empresas privadas em geral.
Moldar um novo e atualizado profissional para o atendimento ao público.
Investir em controles para aprimorar desempenhos da equipe, do gerente e das
metodologias de trabalho.
"O perfil do bibliotecário deve ser caracterizado pelos atributos específicos de um
agente de mudanças, capaz de gerenciar os recursos informacionais com a
habilidade exigida pelo setor de informação do quaternário". (Amaral, 1998, p. 35)
"O bibliotecário deve conhecer a unidade de informação sob sua responsabilidade
desde
os
aspectos
socioculturais,
econômicos,
políticos,
tecnológicos,
demográficos e legais relacionados com o meio ambiente em geral e com o
ambiente interno onde está inserida a unidade de informação". (Amaral, 1998 p.
36)
Enfim, o moderno profissional da informação deve gerenciar sua unidade de
informação como uma organização moderna, com uma visão centrada no ser
humano como uma sistema aberto, participativo, com co-responsabilidades,
voltado para interação com o meio externo apresentando características de
administração estratégica, flexibilidade na hierarquia da unidade, exercendo
�controle sobre resultados, trabalhando em equipe de forma compartilhada,
capacitando e avaliando a informação, possuindo uma visão sistêmica da
realidade, ampliando a capacidade organizacional de sua unidade de informação,
criando e, por fim, inovando.
4 - PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO DO FUTURO
Devido ao surgimento das novas tecnologias de informação e de seu rápido
crescimento dentro da sociedade, estão sendo criadas as bibliotecas virtuais
,também conhecidas como "bibliotecas sem parede", que almejam disponibilizar
informações sem a necessidade de uma instalação física onde sejam
armazenados livros, periódicos e/ou qualquer outro tipo de suporte de informação.
Analisando essa realidade e verificando que vivemos num país subdesenvolvido
onde pessoas morrem de fome e não existe incentivo por parte dos governantes
na educação, percebemos que grande parte da população não conhece ou sabe
manusear esses instrumentos tecnológicos de busca de informação. Assim sendo,
verificamos que mesmo num cenário de avanço tecnológico em meios eletrônicos,
de internet e outros suportes, a presença de bibliotecários e de bibliotecas será
fundamental para a recuperação das informações. Pois, as pessoas não estão
preparadas para pesquisar e não dispõem de tempo para efetuá-las, preferindo
que profissionais gabaritados exerçam essa função. E nessa lacuna, a presença
do bibliotecário torna-se essencial dentro da sociedade.
�O perfil do bibliotecário do futuro deverá ser revisto. Ele deixará de ser um
intermediador entre o usuário e a informação escrita para um intermediador do
cliente para a informação eletrônica. Com isso, o bibliotecário do futuro deverá ser
um exímio conhecedor de informática, pois através de meios tecnológicos, ele irá
exercer seu papel de organizador e disseminador da informação. O bibliotecário
passará a ser um "consultor de informação", provavelmente, trabalhando de forma
autônoma, sem a necessidade de uma instalação nos moldes das bibliotecas
atuais. Por essas questões, o profissional da informação, no futuro, para conseguir
êxito em sua carreira deverá prestar um serviço de qualidade onde o atendimento
ao cliente será fundamental para a manutenção de sua existência.
5 - CONCLUSÃO
Vivemos numa sociedade repleta de transformações que alteraram durante o
século XX o perfil de profissionais de várias áreas e isso não foi diferente com os
profissionais de biblioteconomia. Podemos perceber uma grandiosa mudança no
perfil desse profissional.
Anteriormente combalido e recluso a bibliotecas ou "depósitos de livros", onde
atuavam como "guardiões de papéis", sem perspectivas profissionais e sem
reconhecimento dentro da sociedade. Evidente que esse quadro era um reflexo da
atuação desses profissionais, que por muitas vezes, se isolavam da sociedade e
de outros profissionais, reclusos dentro de bibliotecas, isolados da realidade e das
transformações da sociedade. Contudo, com o passar dos anos, com mudanças
curriculares, criação de educação continuada, através de congressos, encontros,
�simpósios, cursos etc..., regulamentação da profissão, criação de cursos em nível
de pós-graduação e mestrado, compartilhamento de informações, novas técnicas
gerenciais e advento de novas tecnologias de informação, esse profissional
passou a ser um "gerente informacional". Procurando novas alternativas de
atendimento, expandindo-se, indo além de sua unidade de informação, buscando
a informação onde ela estiver, o bibliotecário moderno deixou a reclusão de sua
unidade de informação para trabalhar de forma compartilhada a outras unidades
de informação e o bibliotecário do futuro, apesar de ainda ser uma incógnita,
provavelmente,
será
um
"consultor
da
informação"
ou
"guia
do
conhecimento",exercendo a profissão de forma autônoma e buscando preencher
uma lacuna dentro da sociedade. Além disso, ele deve desenvolver habilidades
interpessoais, de comunicação, gerenciais e técnicas sendo um profissional de
extrema importância dentro da sociedade.
6 - REFERÊNCIAS
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�
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
SNBU - Edição: 14 - Ano: 2006 (UFBA - Salvador/BA)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Bibliotecas Universitárias
Description
An account of the resource
Tema: Acesso livre à informação científica e bibliotecas universitárias.
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
SNBU - Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias
Publisher
An entity responsible for making the resource available
UFBA
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2006
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
Salvador (Bahia)
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
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Title
A name given to the resource
Perfil do bibliotecário: uma realidade brasileira.
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An entity primarily responsible for making the resource
Martins, Robson Dias
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
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An entity responsible for making the resource available
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Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2006
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Description
An account of the resource
Esse trabalho pretende demonstrar a mudança comportamental do bibliotecário durante o Século XX, desde o profissional considerado como "guardião de livros" no início do século até o moderno profissional da informação, voltado para o gerenciamento de unidades de informação e inserido nas novas tecnologias de informação.
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