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BIBLIOTECONOMIA E AS RELAÇÕES DE GÊNERO: RAZÕES DE
INGRESSO E PERCEPÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS
Hugo Avelar1
Lígia Maria Moreira Dumont2
1 INTRODUÇÃO
A ordem sexual do mundo está tão arraigada no cotidiano das pessoas, que
parece estar na ordem das coisas. As divisões entre os sexos às vezes são vistas como
naturais, que passaram a legitimar e confirmar a dominação masculina na sociedade
(BORDIEU, 2003). São fundadas e alimentadas pela dominação do masculino sobre o
feminino e interferem em todos os campos da sociedade, inclusive definindo as relações
de trabalho.
Os estudos de gênero visam compreender de quais formas se dá a divisão entre
os sexos na sociedade, além de buscar demonstrar a diminuição e/ou exclusão das
mulheres em diversos campos da sociedade. Ademais, tais estudos demonstram que o
prestígio dado aos homens em alguns setores é uma construção histórica e social,
reproduzido por vários mecanismos.
O aumento da tecnicidade na profissão bibliotecária foi um dos fatores mais
importantes para a feminilização da profissão, e não as características das bibliotecas
como espaços de cuidado e armazenamento, ligadas ao ideal maternal. Os primeiros
cursos de Biblioteconomia no país, influenciados pelo modo de fazer biblioteconômico
europeu, se orientavam por uma formação mais humanista da profissão de bibliotecário.
Com o tempo, os novos cursos criados se voltaram para um modo de fazer norteamericano, mais técnico e menos erudito. É nesse período que há uma feminização
maior da profissão de bibliotecário, com uma procura maior de mulheres pelos curso de
Biblioteconomia, Que passaram a atrair mulheres da classe dominante. Martucci (1996)
destaca que nesse período há maior aproximação da Biblioteconomia com a área
educacional, onde muitas das bibliotecas brasileiras passaram a ser criadas já vinculadas
às escolas, principalmente nos primeiros anos do século XX (MARTUCCI, 1996).
Cabe ressaltar que são poucos os estudos na área biblioteconômica a respeito da
influência de gênero na constituição da profissão e que estes, estão em sua grande
1
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Escola de Ciência da
Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: hugo_avelar@yahoo.com.br.
2
Professora titular do Departamento de Teoria e Gestão da Informação da Escola de Ciência da
Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: dumont@eci.ufmg.br
�maioria, pouco consolidados (FERREIRA, 2003) e que apesar de ainda ser bastante
feminizada, tem havido maior procura por parte dos homens, pelos cursos de
Biblioteconomia, principalmente após os anos 1980. O presente trabalho apresenta
resultados parciais de pesquisa de mestrado que visa investigar as razões que trouxeram
e trazem homens para os cursos de Biblioteconomia.
2 METODOLOGIA
O presente trabalho se orientou para pesquisar quais as razões que levaram os
bibliotecários a optar pelos cursos de Biblioteconomia, bem como verificar se eles
percebem se há ou não vantagens em ser homens numa profissão majoritariamente
feminina. O questionário survey desenvolvido no Google Docs foi enviado para
bibliotecários do gênero masculino, via Conselhos Regionais de Biblioteconomia das
cinco regiões do país e o presente artigo apresenta panorama geral das respostas
recebidas. O questionário foi enviado para cerca de 2600 bibliotecários por e-mail,
sendo também divulgado no sítio eletrônico de alguns conselhos e foram obtidas 207
respostas.
3 RESULTADOS
Ao serem questionados sobre se o curso de Biblioteconomia foi a primeira opção
dos mesmos de curso universitário, 91 dos respondentes disseram que “sim”,
totalizando 44% dos entrevistados. Entretanto, deste total que responderam que o curso
foi a primeira opção de curso, 36 responderam que não conheciam o curso antes de
cursá-lo.
Em outra questão, perguntou-se quais fatores levaram os mesmos a cursar
Biblioteconomia. Destes, 36 respondentes que não conheciam o curso antes de cursá-lo,
o apreço pela leitura aparece como a resposta de 16 (44,4%) bibliotecários. Além disso,
pode-se citar como fator importante, a oferta de empregos e concursos como uma das
razões para atrair os homens para o curso de Biblioteconomia, com 17 respostas
(47,2%). Tal fator, evidencia a consolidação da profissão e a importância do setor
público como um empregador de bibliotecários, fato que já havia sido assinalado por
Pena; Crivellari e Neves (2006) e por Souza e Nastri (1996).
Quanto ao turno de formação, a oferta de cursos em turno noturno pode ser
indicada como importante fator para atrair mais homens para os cursos de
Biblioteconomia. Dos 207 respondentes ao survey, 95 (45,9%) estudaram no turno da
noite, número bem próximo aos que estudaram no curso matutino (93 ou 44,9%).
�Quanto às percepções das relações de gênero por parte dos bibliotecários, a
pesquisa mostra que apenas 65 bibliotecários (31,4%) admitem que no mercado de
trabalho, há vantagens em ser do gênero masculino em uma profissão feminina. Quando
questionados se em sua atuação profissional eles já obtiveram algum benefício por
serem do gênero masculino, este número cai para 62 (29,9%).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações de gênero tão arraigadas na sociedade, acabaram por definir papeis
masculinos e femininos no mundo do trabalho. A profissão bibliotecária com o tempo
passou a ser exercida majoritariamente por mulheres e este pode ser uma das
explicações pela diminuição do status da profissão.
Nos últimos tempos vem se observando maior procura de homens pelos cursos
de Biblioteconomia e a presente pesquisa apresentou, com base em survey, algumas das
razões que trouxeram esses homens para os cursos, como a oferta de curso noturno, de
empregos e concursos. Pôde-se verificar que pouca parcela dos respondentes acredita
que ser homem em uma profissão feminina traz alguma vantagem para eles,
evidenciando a pouca percepção das relações de gênero no mundo do trabalho, por parte
dos bibliotecários.
Palavras-chave: Estudos de gênero – Biblioteconomia – Bibliotecário
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2003.
FERREIRA, Maria Mary. O profissional da informação no mundo do trabalho e as
relações de gênero. Transinformação, Campinas, v.15, n.2, p. 189-201, maio/ago.
2003.
Disponível
em:
<http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/
transinfo/article/view/1486/1460> Acesso em 2 mar. 2015.
MARTUCCI, Elisabeth Márcia. A feminização e a profissionalização do magistério e
da biblioteconomia: uma aproximação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo
Horizonte, v.1, n.2, p.225-244, jul./dez. 1996. Disponível em: <
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/viewFile/642/430> Acesso
em 11 mar. 2015.
PENA, A. S.; CRIVELLARI, H. M. T.; NEVES, J.A. O mercado de trabalho do
profissional da informação: um estudo com base na RAIS comparando os anos de 1994
e 2004. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO, 7, 2006, Marília Anais eletrônicos... Marília, SP: UNESP, 2006
Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/sistemas/enancib/viewpaper.php?id=270>
Acesso em 17 jan. 2015.
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
CBBD - Edição: 26 - Ano: 2015 (São Paulo/SP)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Publisher
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FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2015
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo/SP
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Biblioteconomia e as relações de gênero: razões de ingresso e percepções de bibliotecários
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Avelar, Hugo
Dumont, Ligia Maria Moreira
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo (São Paulo)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2015
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Subject
The topic of the resource
Relações de Gêneros
Biblioteconomia
Description
An account of the resource
A ordem sexual do mundo está tão arraigada no cotidiano das pessoas, que parece estar na ordem das coisas. As divisões entre os sexos às vezes são vistas como naturais, que passaram a legitimar e confirmar a dominação masculina na sociedade (BORDIEU, 2003). São fundadas e alimentadas pela dominação do masculino sobre o feminino e interferem em todos os campos da sociedade, inclusive definindo as relações de trabalho.
Language
A language of the resource
pt
cbbd2015