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Modelo 2
XVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação
22 a 24 de julho de 2015
Resumo expandido
TEM UM PÓ BRANCO DENTRO DO LIVRO...
Lorete Mattos (UFRGS). Email para contato: lorete@gmail.com. Catherine Cunha (UFRGS).
Email para contato: catherinecunha@gmail.com.
Introdução
Para evitar os danos decorrentes da ação de agentes biológicos (principalmente os
insetos), foram adotadas diversas medidas em bibliotecas, arquivos e acervos particulares.
Muitas delas estiveram, e ainda são, pautadas no uso de inseticidas e pesticidas.
Porém, atualmente sabe-se que:
Quando se fumiga com inseticida o interior de um local, os dissolventes e
pequenas quantidades do produto volatizam-se no espaço que as coleções e
os seres humanos ocupam, e esses produtos químicos, ainda que em
pequeníssimas quantidades, ocasionam danos às coleções, às pessoas e ao
meio ambiente. Por estas e outras razões, a cada dia tende-se mais à
prevenção. (VAILLANT CALLOL, 2013, p. 84)
Logo, os conservadores passaram a propor o Controle Integrado de Pragas e a buscar
outros métodos não tóxicos como o congelamento, o uso de gases inertes, a anóxia, a radiação
eletromagnética, entre outros.
Ainda assim, nos deparamos com coleções e acervos que foram expostos e
contaminados pelos pesticidas, e que hoje constituem um desafio para aqueles que precisam
gerir e dar acesso a essas obras.
Nesse descompasso entre a mudança de paradigma e postura, os acervos permanecem
custodiando e recebendo essas obras. Algumas ainda guardam resíduos, já que o conhecimento
quanto ao risco a que estamos exposto é recente, e as discussões em torno do assunto são
escassas.
Visando identificar os tratamentos utilizados para o controle de pragas em acervos
documentais no Rio de Janeiro, Almeida e Bojanoski (2009) realizaram um estudo coletando
dados junto à instituições bem como nas recomendações presentes nas bibliografias da área de
conservação de acervos bibliográficos e documentais. O resultado mostrou que inúmeras
bibliografias indicavam substâncias a serem utilizadas e que as instituições estavam seguindo
essas orientações fazendo o uso, inclusive, de compostos organoclorados como o
Hexaclorocicloexano (BHC) e o Diclorodifeniltricloretano (DDT).
Os organoclorados “São compostos de alto risco, tanto para o homem quanto para os
animais, não tanto por sua toxidade, mas por sua elevada permanência, por isto podem provocar
problemas de contaminação do solo e acumular-se nas cadeias alimentares.” (VAILLANT
CALLOL, 2013,p. 102)
Essas substâncias não são biodegradáveis, e portanto possuem um elevado poder
residual. Nos seres vivos, acumulam-se nas células adiposas por inalação, ingestão ou absorção
pela pele.
Em 1985, a portaria nº329 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
proibiu em todo o território nacional a comercialização, o uso e a distribuição dos produtos
agrotóxicos organoclorados (incluindo o DDT e o BHC) destinados a agropecuária. Mas apenas
em 2009 foi aprovada a Lei 11.936 que proíbe a importação, exportação, manutenção em
estoque e comercialização e uso do (DDT) para qualquer finalidade.
�No Brasil, um caso emblemático de contaminação ocorreu no Arquivo Histórico de
Joinville, no qual a prática de dedetização do acervo para o controle de insetos xilófagos era
rotineira entre os anos 1972 até 1986:
O cheiro característico do inseticida foi mascarado pelo efeito do ambiente
climatizado e o problema só veio à tona em 2002, devido ao mau
funcionamento do sistema de climatização. Foi neste período que aumentou
consideravelmente a incidência de quadros de cefaléia, tonturas e náuseas
entre os funcionários. (CARRASCO, 2012, p. 1)
A partir de análises realizadas por laboratório, foi identificada a presença de BHC e
DDT no acervo. Desde então, os servidores realizam exames periódicos de saúde.
Segundo Carrasco (2012, p.3), “O acesso público ao acervo contaminado do Arquivo
Histórico de Joinville ainda está suspenso, porque é preciso esclarecer que a remoção total do
inseticida dos documentos não é possível.” Esses permanecem em área isolada com acesso
restrito aos funcionários. Como solução, estão sendo estudadas ações de microfilmagem e
digitalização. O material contaminado passível de descarte é mantido em container dentro de
embalagens de sacos plásticos lacradas e identificadas até que possa ser recolhido por empresa
especializada e descartado em aterro industrial.
A experiência na Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Durante a execução do Projeto de Preservação do Acervo Raro da UFRGS, que teve
início em 2014 e tem como objetivo preservar e dar acesso às obras raras, foi encontrado um pó
branco junto ao festo de dez livros da coleção custodiada pela Biblioteca Central.
Os bolsistas, contratados pelo projeto para realizar a higienização a seco das obras,
foram orientados a suspender esse processo e comunicar a coordenação caso qualquer objeto
estranho fosse encontrado no seu interior, especialmente pó branco.
Sabia-se da existência desse material em algumas obras pois em procedimentos
anteriores de higienização havia sido relatado a sua presença, mas sem especificar em quais e
em quantas obras ele estaria.
A medida em que foram sendo encontradas, as obras foram reunidas no Laboratório de
Conservação e Restauro (LACOR) até que pudéssemos dimensionar o problema e determinar o
procedimento a ser feito. Em algumas delas, a quantidade de pó encontrada foi significativa.
Primeiramente, contatamos as Faculdades de Química, Farmácia e Biomedicina da
UFRGS para solicitar a análise do material a fim de identificar se tratava-se de organoclorado.
O Instituto de Química foi o único a dispor do equipamento para a realização da cromatrografia
gasosa, mas não possuía metodologia adequada para realizar a análise em amostras provenientes
de material bibliográfico.
Assim, buscou-se no estado do Rio Grande do Sul outros laboratórios, inclusive
privados, que igualmente disseram não poder realizar a análise.
Simultaneamente, soubemos do caso ocorrido na biblioteca da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) a partir da ampla
divulgação na imprensa no primeiro trimestre de 2015, na qual constatamos que o Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT) havia realizado a análise do material encontrado naquele acervo
(ABREU, 2015; SOUZA, 2015).
Contatamos a biblioteca para obter informações sobre o laboratório responsável, os
procedimentos adotados, e realizar os trâmites necessários para encaminhar as análises quali e
quantitativa da amostra, ou seja, verificar se tratam-se de material organoclorado e, se for
confirmada a suspeita, saber qual é o percentual de pesticida presente.
Optamos por realizar a análise em uma única amostra devido ao elevado custo e por
acreditamos que trata-se do mesmo material, já que as obras nas quais o pó branco foi
encontrado tem a mesma proveniência.
�Caso seja confirmada a suspeita, será necessário realizar a análise toxicológica a fim de
identificar se ele ainda coloca em risco o ambiente, as pessoas e a coleção (uma vez que não
podemos precisar a quanto tempo o material está em contato com as obras), mensurar o impacto
que pode causar e decidir o que fazer já que tratam-se de livros da coleção de obras raras, e
portanto, insubstituíveis.
Como solução provisória, as obras com material suspeito foram devolvidas à coleção
devidamente acondicionadas em caixas de papel alcalino, com sinalização especial na lombada
e o número do código de barras para identificar e evitar o manuseio até que tenhamos o
resultado da análise e possamos avaliar os próximos passos.
Considerações Finais
O desconhecimento quanto aos efeitos causados pelos organoclorados em acervos
bibliográficos e documentais coloca em risco a saúde dos profissionais e usuários que os
consultam, bem como a coleção e o ambiente no qual este material é manipulado.
Assim, faz-se necessário difundir e discutir o tema a fim de conscientizar os
profissionais da área sobre os métodos atóxicos e, principalmente, o controle integrado de
pragas; os cuidados necessários durante a avaliação das condições físicas de obras doadas; e por
fim, desenvolver pesquisas e estudos visando solucionar o problema das obras que já estão
contaminadas sem expor ao risco os usuários e funcionários.
Palavras-chave: Pesticidas. Organoclorados. Acervos documentais.
Referências:
ABREU, Sérgio França Adorno de. Dossiê Biblioteca 2015. São Paulo, 2015. Disponível
em:<http://fflch.usp.br/sites/fflch.usp.br/files/BIBLIOTECA_dossie.pdf>. Acesso em: 24 fev 2015.
ALMEIDA, Thais Helena de; BOJANOSKI, Silvana. Tratamentos químicos aplicados à biodeterioração
de acervos documentais na cidade do Rio de Janeiro. In.: CONGRESSO INTERNACIONAL DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CONSERVADORES E RESTAURADORES DE BENS
CULTURAIS, 13, 2009, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: [s.n.], 2009, p. 387-393.
CARRASCO, Gessônia Leite de Andrade. A contaminação de documentos em suporte de papel por
inseticidas organoclorados e o ambiente de trabalho. In.: Boletim Eletrônico da ABRACOR, n. 5, Rio
de Janeiro, fevereiro de 2012. Disponível em:
<http://www.abracor.com.br/boletim/boletimcompleto_5.pdf >. Acesso em 20 fev. 2015.
SOUZA, Marcelle. Com livros contaminados por DDT, funcionários fecham biblioteca na USP. São
Paulo, 2015. Disponível em <http://educacaouol.com.br/noticias/2015/02/20/com-livros-contaminadospor-ddt-funcionarios-fecham-biblioteca-na-usp.htm>. Acesso em: 24 fev 2015.
VAILLANT CALLOL, Milagros. Métodos de combate a pragas e infecções: novas tendências. In.:
Biodeterioração do patrimônio histórico documental: alternativas para a sua erradicação e controle.
Rio de Janeiro: MAST e Casa de Rui Barbosa, 2013. P. 83-123.
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
CBBD - Edição: 26 - Ano: 2015 (São Paulo/SP)
Subject
The topic of the resource
Biblioteconomia
Documentação
Ciência da Informação
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2015
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo/SP
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Tem um pó branco dentro do livro
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Mattos, Lorete
Cunha, Catherine
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo (São Paulo)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2015
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Subject
The topic of the resource
Pesticidas
Venenos Sintéticos
Acervo
Description
An account of the resource
Para evitar os danos decorrentes da ação de agentes biológicos (principalmente os insetos), foram adotadas diversas medidas em bibliotecas, arquivos e acervos particulares. Muitas delas estiveram, e ainda são, pautadas no uso de inseticidas e pesticidas.
Language
A language of the resource
pt
cbbd2015