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http://repositorio.febab.org.br/files/original/19/1194/Trab14400179020150322_000000.pdf
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XVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação
22 a 24 de julho de 2015
Resumo expandido
Os livros digitais estão presentes, e de forma crescente, nos acervos das
bibliotecas. Contudo, sua inclusão nas rotinas bibliotecárias causa dúvidas, desde
as possibilidades de aquisição, às formas de acesso e utilização pelos usuários.
Pesquisa realizada, em 2010, constatou que os livros digitais estavam presentes
em 72% das bibliotecas públicas norte-americanas, e 12% das bibliotecas
universitárias possuíam circulação de dispositivos de leitura. O objetivo deste
artigo é alertar as bibliotecas brasileiras para o processo de implantação dos livros
digitais por meio de empréstimo de dispositivos de leitura. Metodologicamente,
trata-se de estudo descritivo, que por meio de levantamento bibliográfico elabora
revisão de literatura sobre as experiências que identificam aspectos positivos e
negativos na adoção e uso de dispositivos de leitura como forma de acesso dos
conteúdos digitais. Analisa-se as experiências da River Forest Public Library e
Mentor Public Library (MPL). A análise dos resultados destaca a iniciativa da
River Forest em separar os dispositivos por temática dos livros digitais, e o
investimento em conteúdo variado. Já, os procedimentos da MPL resguardavam a
biblioteca em caso da ocorrência de sinistros. As experiências comentadas
reforçam as limitações impostas à aquisição do conteúdo quando o equipamento
possui formato proprietário. Também é identificado aspecto legal sobre a validade
para realização de circulação de dispositivos de leitura. Na discussão dos
resultados, elenca-se recomendações que devem ser consideradas pela
biblioteca ao optar pela implantação de serviço de empréstimo de dispositivos de
leitura. As considerações finais destacam que a inclusão de dispositivos de
leitura em bibliotecas e sua circulação são iniciativas interessantes que podem ser
adotadas por instituições que ainda não estão familiarizadas com os dispositivos e
com a experiência da leitura de livros digitais. Por outro lado, emprestar os
dispositivos não pode ser visto como uma política de utilização de livros digitais.
Palavras-chave: Livros digitais; Dispositivos de leitura; Empréstimo digital.
�EMPRÉSTIMO DE DISPOSITIVOS DE LEITURA EM BIBLIOTECAS: ANÁLISE
DE EXPERIÊNCIAS
Autores: Liliana Giusti Serra. Universidade de São Paulo, Escola de
Comunicações e Artes. E-mail: lgiustiserra@gmail.com.
José Fernando Modesto da Silva. Universidade de São Paulo, Escola de
Comunicações e Artes. E-mail: fmodesto@usp.br
1. Introdução: Os livros digitais são recursos de informação já presentes, e de
forma crescente, nos acervos das bibliotecas. Contudo, sua inclusão nas rotinas
bibliotecárias ainda causa dúvidas, desde o desconhecimento do próprio objeto,
até as possibilidades de aquisição, as formas de acesso e sua efetiva utilização
pelos usuários. Causam, ainda, estranheza quanto as possibilidades de uso e de
fragilidade que representam em relação à sua preservação e permanência de
longo prazo nas coleções.
Pesquisa realizada em 2010 constatou que os livros digitais estavam presentes
em 72% das bibliotecas públicas norte-americanas, sendo que 12% das
bibliotecas universitárias possuíam circulação de dispositivos de leitura, enquanto
84% dessas bibliotecas reportaram que os usuários possuíam seus próprios
dispositivos para leitura de livros digitais (LIBRARY JOURNAL, 2010). Muitos dos
projetos de oferta de dispositivos de leitura para empréstimo foram iniciados após
2007, reflexo do aumento da oferta de conteúdo e o lançamento do Kindle. Antes
deste ano, os projetos não representaram aplicações expressivas, motivados,
principalmente, pela existência de poucos modelos de dispositivos dedicados e
pela baixa popularidade dos mesmos.
Neste aspecto, o objetivo deste artigo é abordar a circulação dos livros digitais via
empréstimo dos dispositivos de leitura, como forma de alertar às bibliotecas
brasileiras algumas questões existentes no processo, e recomendações a serem
observadas.
2. Livros Digitais, Dispositivos e Modelos de Negócios. Muitas bibliotecas
iniciam o contato com livros digitais por meio das obras de acesso aberto (open
access) ou de domínio público, sem prender-se às restrições impostas por
plataformas de fornecedores como: DRM (Digital Rights Management), formatos
proprietários ou compatibilidade com dispositivos de leitura. As obras de acesso
aberto ou de domínio público têm seu uso franqueado, com a complexidade
repassada ao controle de validade dos links quando os títulos são incluídos aos
�catálogos, exigindo revisão periódica por parte dos bibliotecários, a fim de garantir
que o material esteja disponível em seu sítio de origem.
O fato de iniciarmos, no Brasil, a inclusão de livros digitais com um atraso de dez
anos, quando comparado às bibliotecas dos Estados Unidos e Europa, não se
mostra de todo ruim, com avanços e possibilidades de licenciamento sendo
ofertadas após experiências realizadas em outras instituições. Evidentemente, a
quantidade e variedade de conteúdo disponível em língua portuguesa ainda é
pequeno se comparado com o idioma inglês, porém as editoras têm-se
empenhado em lançar obras no suporte digital de forma recorrente, ampliando a
oferta de títulos. Tais lançamentos, em muitos casos, baseiam-se em projetos
editoriais de obras em papel, para modelar os livros no suporte digital como uma
cópia fiel do impresso. Entretanto, quando concebidas com recursos multimídia
ou interatividade com o leitor, também podem ser incluídas aos acervos das
bibliotecas.
O livro digital pode ser licenciado para bibliotecas por meio de fornecedores
específicos. Diferentemente dos leitores que recorrem a livrarias online para
licenciar os títulos de seu interesse, as bibliotecas podem obter estes recursos por
meio de fornecedores específicos como editores, agregadores de conteúdo e
distribuidores. Os editores são os responsáveis pelas obras publicadas e podem
possuir, ou não, uma plataforma própria, onde comercializam somente os seus
títulos. Os agregadores são empresas que representam editores diversos,
reunidos seus títulos sob uma plataforma que controla o uso que pode ser feito
dos mesmos. São alternativas para editores que não possuem plataforma própria
ou que interessam-se em expandir as possibilidades de licenciamento por
terceiras partes. Os distribuidores também representam os títulos publicados por
diversas editoras, porém diferem dos agregadores por não possuírem plataforma
própria, promovendo a comercialização do produto de outrem. Apesar de editores
e distribuidores serem boas fontes para licenciamento de conteúdo, o volume de
títulos ainda é concentrado nos agregadores de conteúdo e estes, no Brasil,
investem em títulos destinados ao público universitário. Em similaridade ao que
ocorreu nas bibliotecas norte-americanas, observa-se no país a inclusão dos livros
digitais primeiramente nas bibliotecas universitárias e, sucessivamente, nas
corporativas, públicas e escolares. Curioso observar a inclusão tardia em
bibliotecas escolares. Esta demora surpreende pelo fato do público, nesse
segmento escolar, estar habituado às novas tecnologias e, portanto, esperava-se
que sua apropriação transcorresse de forma natural, exatamente pela exposição
precoce com os recursos tecnológicos e digitais. Contudo, nota-se que a oferta de
conteúdo e sua aplicação em ambientes escolares, no Brasil, assemelham ao
movimento ocorrido no exterior.
�Os atuais modelos de negócios praticados no país estão restritos a aquisição
perpétua e assinatura, sem a incidência de alugueis ou processos de
licenciamento transitório onde uma aquisição é disparada a partir de iniciativa do
usuário, como ocorrem nos modelos DDA (Demand Driven Acquisition) e STL
(Short Term Loan). As tradicionais livrarias virtuais não oferecem livros digitais
para bibliotecas, com seu foco centrado em atender o leitor, o que dificulta a
aquisição. Uma alternativa adotada por algumas instituições é a aquisição de
dispositivos de leitura dedicados (e-readers) ou convergentes (tablets), com a
inclusão de conteúdo nos dispositivos a serem emprestados. Apesar de não ser
considerada uma política de inclusão de livros digitais aos acervos, mostra-se
como uma alternativa às bibliotecas que não estão seguras em relação aos
investimentos e as possibilidades de licenciamento de livros digitais.
“Dispositivos de leitura dedicados podem ser desafiadores para
bibliotecas porque estes equipamentos são, usualmente,
direcionados para o leitor individual e não para instituições.
Certamente, não é difícil identificar a quantidade de vezes que
um dispositivo de leitura foi emprestado. Porém, não é
facilmente aparente quantas vezes um título em particular foi
acessado no dispositivo” (GRIGG, 2012, p.134, tradução
nossa).
Ao emprestar dispositivos de leitura, a biblioteca permite tanto a seus usuários,
quanto a sua própria equipe, o contato com os livros digitais e seus dispositivos de
leitura, antes mesmo de iniciar a contratação de um fornecedor para realizar
assinaturas ou selecionar títulos para aquisições perpétuas. De acordo com
Porter, Weaver e Newman (2012), os livros digitais podem ser oferecidos aos
usuários de três formas: 1) por meio de fornecedores, com o usuário realizando o
download para seu próprio dispositivo; 2) emprestando dispositivos de leitura, na
forma de um serviço; e 3) como uma loja, com equipamentos para uso disponíveis
no espaço da biblioteca.
Felkner (2012) destaca que ao emprestar dispositivos, a biblioteca permite aos
usuários que não possuem computadores ou equipamentos que possam ter
contato e usufruir dos livros digitais presentes nos acervos. Da mesma forma,
quando a biblioteca não consegue adquirir livros digitais por falta de títulos
disponibilizados pelos fornecedores, a aquisição de dispositivos de leitura mostrase uma alternativa. Contudo, esta prática é transitória, visto que existem restrições
na adoção desta iniciativa, além dos investimentos na compra de equipamentos e
sua manutenção. O conteúdo a ser incluído nos dispositivos deve ser identificado,
buscando agrupar obras de interesses similares nos mesmos dispositivos. Devese definir a quantidade de equipamentos a serem adquiridos, assim como marcas
e modelos, com o objetivo de impedir que restrições impeçam ou dificultem a
�leitura dos livros digitais. Ao selecionar um dispositivo que não seja aderente a
arquivos de formatos proprietários ou ferramentas de DRM, a aquisição de
conteúdo pode ser dificultada ou, até mesmo, impedida. A escolha do
equipamento pode limitar o fornecedor a ser escolhido para realizar o
licenciamento do conteúdo (WALTER, 2014). Também é sugerido que as
responsabilidades do usuário que realiza o empréstimo sejam explícitas, com
assinatura de termos e compromisso de utilização conforme o regulamento da
biblioteca e reposição do equipamento em caso de perda ou avarias.
Em termos legais, o empréstimo de dispositivos de leitura (dedicados ou
convergentes) vem apresentando questionamentos sobre sua validade. Algumas
bibliotecas receiam que, ao empresta-los, seja caracterizada violação de contratos
de licenciamento de software. A restrição não está centrada nos livros digitais
presentes no dispositivo, mas no empréstimo dos dispositivos em si, visto que eles
funcionam mediante utilização de software e de aplicativos instalados neste, com
o uso destinado somente ao proprietário. Desta forma, ao emprestar um e-reader
ou um tablet, a biblioteca estaria infringindo o contrato de licenciamento do
dispositivo e dos aplicativos nele instalados (FELKNER, 2012; HADDOCK, 2009;
HIRTLE, 2010; PORTER; WEAVER; NEWMAN, 2012).
A capacitação da equipe da biblioteca e dos usuários mostra-se fundamental,
tanto para garantir a preservação dos equipamentos, quanto a efetiva utilização
dos recursos. O controle da circulação dos dispositivos de leitura deve ser
mensurado, avaliando o interesse dos usuários, as obras consultadas, a
distribuição dos conteúdos nos dispositivos e a divulgação dos recursos
existentes.
3. Metodologia. Por meio de estudo descritivo, baseado em levantamento
bibliográfico, elabora-se revisão de literatura, no qual recolhe e analisa
experiências sobre os empréstimos dos dispositivos de leitura realizados por
bibliotecas norte-americanas, identificando aspectos positivos e negativos. São
analisados os casos da River Forest Public Library, no estado de Illinois, e da
Mentor Public Library (MPL), no estado de Ohio. A análise das experiências
concentra-se no período de 2008 a 2010. A partir destas experiências, identificamse os pontos recorrentes e as particularidades das iniciativas, inclusive restrições
de ordem legal para aplicação de projetos desta natureza. Aspectos que podem
subsidiar as possibilidades de aplicação em bibliotecas brasileiras.
4. Análise de Resultados. A Biblioteca Pública River Forest (Illinois, EUA)
recebeu doação de três Kindles em 2008, e investiu US$ 180,00 na compra de
conteúdo, definindo três categorias temáticas: ficção, não ficção e suspense. Os
dispositivos foram catalogados por categorias e disponibilizados para consulta por
�meio do OPAC (Online Public Access Catalog). De acordo com o relato de Dierks
(2011), as obras presentes em cada equipamento não foram descritas, apenas as
categorias dos equipamentos. O usuário determinava apenas se desejava
emprestar o dispositivo de ficção, não ficção ou suspense.
Os usuários retiravam os Kindles protegidos em capas de couro para transporte e
acompanhado de um carregador de bateria. Recebiam, também, orientações
sobre como utilizá-los. Esses aparatos eram bloqueados para impedir que os
conteúdos fossem apagados ou outros conteúdos fossem inseridos. O tempo de
empréstimo era de três semanas, sem possibilidade de renovação. Este serviço foi
oferecido apenas à comunidade registrada na biblioteca, não estando disponível
para o empréstimo entre bibliotecas (EEB). Os bibliotecários não tinham como
determinar quais obras eram lidas, se total ou parcialmente. Assim, não era
possível identificar aquelas mais consultadas, o perfil do leitor ou acompanhar
detalhes do projeto, uma vez que apenas a categoria do dispositivo era registrada.
Os bibliotecários também não prepararam pesquisas de opinião dos usuários
sobre a leitura realizada, quando da devolução. Quanto ao modelo de dispositivo
adotado, os Kindles mostraram-se resistentes com a circulação e poucos
problemas foram reportados.
O projeto agradou a comunidade atendida pela Biblioteca Pública River Forest ao
permitir a seus usuários o contato com publicações eletrônicas sem a necessidade
de efetuar investimento na compra de um aparato de leitura de livros digitais.
No início do programa houve a ocorrência de filas de reservas, comprovando o
interesse público em experimentar a novidade. Atualmente, a página da biblioteca
não faz destaque do serviço, porém os equipamentos estão descritos e
disponíveis no catálogo. Não é possível precisar a quantidade de dispositivos
existentes no acervo, porém, foram identificados diversos modelos de Kindles
(Fire, Fire HD, Touch 3G etc.). Observa-se que as obras contidas nos
equipamentos estão descritas atualmente. Curiosamente, os equipamentos
identificados no OPAC estavam todos disponíveis, o que pode representar: 1) o
baixo interesse atual dos usuários pelo projeto; 2) que a biblioteca dispõe de
outras ofertas de acesso aos livros digitais (assinaturas, aquisição perpétua, DDA
etc.); 3) que muitos usuários optaram por adquirir seus próprios dispositivos; e 4)
que a leitura digital não encontrou a aderência imaginada.
A Mentor Public Library (MPL), de Ohio, iniciou o projeto de circulação de leitores
dedicados em 2010, contando com quatro equipamentos da marca Nook,
produzidos pela Barnes & Noble (maior livraria de varejo nos Estados Unido). No
início a oferta apresentou alta procura, com cada dispositivo recebendo de 20 a 30
reservas. Para atender a demanda, a biblioteca adquiriu novos equipamentos,
totalizando doze. No primeiro ano da iniciativa os dispositivos somaram 214
circulações.
�Antes de iniciar o projeto, a biblioteca pesquisou qual o dispositivo apropriado e a
opção pelo Nook levou em consideração fatores como:
Licenciamento: ao adquirir um livro digital para o Nook é possível inclui-lo
em até seis dispositivos;
Parceria: a biblioteca desejava realizar parceria com o fornecedor, aspecto
que auxiliou na capacitação dos seus funcionários para o uso dos
dispositivos;
Fatores de ordem legal: no período de seleção do dispositivo realizados
pelas bibliotecas em foco, a Amazon estava em desacordo com editores
quanto à funcionalidade de leitura, por voz, no Kindle.
Para evitar questionamentos legais sobre a realização de empréstimo dos
dispositivos, a biblioteca pediu autorização à Barnes & Noble para poder circular
os Nooks adquiridos. Semelhante ao projeto da River Forest, a MPL adquiriu
capas para os equipamentos, visando protege-los no processo de circulação para
o usuário. O conteúdo também foi bloqueado evitando a inclusão ou remoção de
obras digitais. Todos os equipamentos receberam os mesmos títulos (50), com
ênfase em best-sellers, e não ficção. Os equipamentos eram guardados em
espaço localizados no balcão de circulação e empréstimo, e onde, também, eram
recarregados após devolução. Dentro da política adotada, o valor do dispositivo,
do carregador de baterias, da capa protetora e do conteúdo incluído eram
apresentados aos usuários, como formalização um termo de responsabilidade. Ao
emprestar um Nook, o usuário assina o termo responsabilizando-se pelo
dispositivo, o seu uso, acessórios e os conteúdos. No termo constam clausulas
onde o usuário se compromete a ressarcir a biblioteca, em caso de dano, avaria,
perda ou furto. Na devolução do equipamento, uma nova conferencia é realizada,
aferindo que tudo foi devolvido e que estão funcionando plenamente.
No início, a procura pelos dispositivos foi intensa, porém, após aquisição de novos
Nooks, verificou-se que nem sempre todos estavam emprestados. Um dos pontos
fortes foi permitir, ao usuário, o contato com um dispositivo. A iniciativa agradou,
principalmente, aos leitores interessados em adquirir um equipamento, mas que
não estavam seguros sobre qual o modelo e marca ideais. Ao capacitar os
usuários para o empréstimo do equipamento, há uma contribuição com o
conhecimento das possibilidades de utilização, tornando tanto a equipe da
biblioteca como os seus usuários em especialistas sobre Nook. Neste sentido,
houve ocasiões em que o usuário aparecia na biblioteca com seu próprio
dispositivo para receber orientações sobre como utiliza-lo e, até mesmo, como
obter conteúdo.
O fato do Nook ser um dispositivo com formato proprietário, restringiu a opção de
compra de títulos à livraria Barnes & Noble. Da mesma forma, ao selecionar este
equipamento, a biblioteca limitou, além da oferta de títulos, a própria experiência
�de seus usuários a uma única marca, e, inviabilizando, contato com outras opções
como o Kindle ou, até mesmo, dispositivos convergentes, que permitem outras
aplicações de uso, além da leitura.
No relato de caso, Porter, Weaver e Newman (2012) não informam o período de
empréstimo, as obras lidas, os danos nos equipamentos, nem a política de
atualização do acervo adotada. Diferentemente do projeto da River Forest, a MPL
não investiu em conteúdo variado, incluindo os mesmos títulos em todos os seus
dispositivos. Considerando que cada livro adquirido na Barnes & Noble pode ser
copiado para seis dispositivos, a biblioteca comprou os mesmos títulos em
duplicidade. Neste aspecto, a iniciativa da River Forest mostra-se interessante, ao
separar os dispositivos por temática, investindo em conteúdo variado. Por outro
lado, o termo de responsabilidade da MPL resguardava a biblioteca caso algum
sinistro ocorresse. Apesar do Nook não ser um aparelho oferecido no Brasil, a
experiência narrada reforça as limitações na aquisição do conteúdo, quando o
equipamento adotado possui formato proprietário.
5. Discussão dos Resultados. Várias bibliotecas recebem solicitações de
usuários e gestores para que incluam livros digitais em seus acervos. Quando isto
ocorre, muitos bibliotecários acreditam que o primeiro passo seja a aquisição de
dispositivos de leitura dedicados ou convergentes. A utilização dos dispositivos de
leitura em bibliotecas pode representar benefícios, porém não deve ser entendido
como uma política de inclusão destes recursos no serviço de informação.
O empréstimo dos dispositivos de leitura representa uma alternativa para que
bibliotecas ofereçam livros digitais a seus usuários, porém não se sentem
familiarizadas com os recursos ou não estão seguras quanto ao investimento a ser
feito, além da aderência de sua comunidade. Os altos custos envolvidos na
compra e oferta de equipamentos aos usuários representam um risco.
Considerando-se o mau uso, depreciação, manutenção, risco de perda, roubo e
outros possíveis danos, a adoção deste serviço não parece vantajosa, sem
considerar que não é permitida a inclusão indiscriminada de livros nos dispositivos
móveis. Um aspecto a considerar, refere-se à durabilidade dos equipamentos,
além do frequente lançamento de novas marcas e modelos, tornando os
dispositivos obsoletos em curto prazo.
Um dispositivo de leitura armazena certa quantidade de obras. Quando o leitor
empresta um equipamento, ele não leva apenas uma obra, mas um conjunto
delas. Adquirir conteúdo e replica-lo em diversos dispositivos não é indicado, pois
não representa a variedade de obras. Nestes casos, a biblioteca possui diversos
exemplares do mesmo material, porém estão reunidos em um único aparelho. É
necessário destacar que ao incluir estes recursos aos acervos, tanto a equipe da
�biblioteca, quanto os usuários devem receber uma capacitação mínima para a
utilização dos dispositivos, caso contrário não saberão operar os aparelhos, e nem
identificar os recursos disponíveis e realizar a leitura.
Da análise das experiências citadas, são identificadas algumas recomendações
que devem ser observadas pela biblioteca ao optar pela implantação de um
serviço de empréstimo dos dispositivos de leitura:
1) Seleção do equipamento: e-reader ou tablet? Ambos permitem a leitura de
livros digitais, porém são aparatos que possibilitam utilizações distintas. A
escolha do modelo e marca influencia o tipo de publicação a ser adquirida,
assim como, as funcionalidades existentes. Por possuírem tecnologia e
recursos diferentes, a biblioteca deve ter clareza das vantagens e
desvantagens na escolha do dispositivo. Ao optar por um determinado tipo
de dispositivo, assegura-se que a sua utilização não terá outra finalidade
que não a leitura. Com os tablets o uso pode se estender à navegação na
internet, jogar, assistir vídeos e realizar leitura. É importante bloquear o
aparelho para que aplicativos e conteúdo não sejam apagados, e nem
outros sejam instalados. Assim como, a aquisição de equipamentos
diferentes (Kindle, tablet etc.), permita haver diversidade de marcas,
modelos, e opções de conteúdo.
2) Formatos de arquivos: é necessário identificar os formatos compatíveis com
os dispositivos de leitura, evitando adquirir equipamentos com restrições de
formatos, e consequente impedimento da leitura. O Kindle faz uso do
formato proprietário AZW, porém é compatível com arquivos em formato
PDF e ePub (a partir da versão Fire). O Nook adota o formato PagePerfect
e apresenta a mesma limitação do Kindle. As publicações adquiridas na
Amazon só podem ser lidas por aparelhos Kindle ou em tablets, desde que
instalado o aplicativo da loja virtual. O mesmo ocorre com o Nook, com
conteúdo restrito à Barnes & Noble. A maioria dos dispositivos de leitura
suportam conteúdos em formatos PDF e ePub.
3) Tipologia de livro digital: conforme a característica de livro digital a ser
adquirido, alguns equipamentos podem oferecer mais ou menos restrições.
Publicações em formato PDF são acessíveis por quase todos os
dispositivos. Porém, conteúdos multimídia podem encontrar restrições de
uso nos aparelhos. Também ocorre dificuldades para a leitura de conteúdos
ilustrados, pois nem todos os dispositivos dedicados possuem recurso para
visualização de cores.
4) Conteúdo: a biblioteca deve estabelecer critérios para a distribuição do
conteúdo incluído no dispositivo, até para otimizar o seu empréstimo. É
recomendado definir temas de conteúdo por dispositivo, assim as chances
�de mais obras serem consultadas aumentam. É interessante que sejam
estabelecidos números mínimos e máximos de títulos que cada dispositivo
receberá. A biblioteca também deve definir se os títulos presentes nos
equipamentos serão de itens existentes no acervo, na versão impressa, ou
se serão títulos novos, incluindo obras existentes somente na versão digital.
5) Questões legais: verificar os riscos de infração de licenciamento com
projetos de empréstimo dos dispositivos de leitura. Na literatura consultada
não localizou-se ocorrências de sanções sofridas pela biblioteca, porém
pode haver a possibilidade de infrações de direito autoral, dependendo a
legislação de cada país. Se possível, buscar orientação jurídica ou
anuência do fornecedor, ou ambas.
6) Quantidade de equipamentos: analisar a necessidade e a quantidade de
equipamentos a serem comprados, de forma que atendam a demanda dos
usuários.
7) Experiência da leitura digital: como observado, os usuários demonstram
interesse em utilizar os dispositivos, e a biblioteca apresenta-se como
espaço atrativo para este fim. Por outro lado, os investimentos e riscos são
altos e a seleção e disponibilização dos conteúdos é complexa. Nota-se,
também, que o interesse dos usuários tende a diminuir com o tempo, por
motivos não totalmente mensurados pelos relatos de experiências.
8) Circulação e empréstimo: a biblioteca deve estipular prazos de empréstimo
dos dispositivos conforme a categoria de usuário. Também deve definir as
permissões para renovação e reservas dos equipamentos.
9) Descarte: apesar de não haver relatados, nas experiências comentadas, a
política de desenvolvimento de coleção deve considerar, também, o
descarte do conteúdo presente nos dispositivos, assim como dos próprios
equipamentos. Caso um aparelho apresente problemas, quebre, seja
perdido ou roubado, a biblioteca deve estabelecer critérios para a
substituição na coleção, por exemplo: com o mesmo conteúdo, mesma
marca ou modelo.
10) Capacitação: tanto a equipe da biblioteca quanto os usuários devem ser
capacitados no uso dos dispositivos. A equipe deve estar apta a resolver
problemas ou esclarecer dúvidas dos usuários. Estes, por sua vez, devem
receber orientações sobre como utilizar os dispositivos, carregar baterias e
realizar leituras, minimizando os riscos de avarias aos aparelhos.
11) Proteção do equipamento: investir em capas protetoras, ou em qualquer
outro material destinado à proteção dos dispositivos. Se possível,
selecionar capas que protejam contra quedas.
12) Divulgação: o projeto de circulação dos dispositivos de leitura deve ser
amplamente divulgado e a leitura nestes aparatos incentivada, até para
amenizar e justificar o investimento realizado.
�13) Indicadores de avaliação: a biblioteca deve coletar dados dos empréstimos
realizados, categorias de usuários, conteúdos consultados e outros mais
que permitam mapear a utilização dos recursos. Mesmo pesquisa de
opinião deve ser realizadas com constância, avaliando o nível de satisfação
dos usuários em relação ao conteúdo digital, performance do aparelho,
adequação do projeto. Aspectos importantes e que colaboram para
implementar ajustes e assegurar a aquisição de novos equipamentos e
conteúdos.
Estas são recomendações para a adoção de um projeto destinado à circulação e
empréstimo de dispositivos para a leitura de livros digitais, porém, muitas outras
orientações existem ou podem surgir com a implantação do serviço. Por outro
lado, fazer uso desses equipamentos é interessante à biblioteca por permitir que o
usuário, que não possua dispositivos de leitura ou computador, possa consultar o
acervo sob novo prisma tecnológico, além de vivenciar uma outra experiência de
leitura.
Considerações Finais
A inclusão dos dispositivos de leitura em bibliotecas e sua circulação e
empréstimo são iniciativas interessantes a serem adotadas por instituições que
ainda não estão familiarizadas com outros suportes tecnológicos, e nem com a
experiência da leitura de livros digitais. Por outro lado, o serviço de empréstimo de
dispositivos não pode ser entendido como política de aquisição de livros digitais.
Estes dispositivos são recursos tecnológicos de rápida obsolescência e alguns
modelos não permitem amplo acesso ao conteúdo digital. O empréstimo de um
dispositivo pode representar a retirada de dezenas ou milhares de conteúdos por
um único usuário, impedindo que todos os conteúdos sejam consultados por
outros usuários durante a vigência do empréstimo. Situação que coloca o
conteúdo em segundo plano, com o aparato armazenando diversas itens. O
investimento no equipamento é considerado alto e há riscos de danos materiais. A
seleção do conteúdo e sua distribuição nos dispositivos é complexa. A própria
escolha da marca e modelo do equipamento apresenta complexidade e contempla
restrições de operação e uso.
Ao decidir pela inclusão de livros digitais no acervo, a biblioteca deve assegurar-se
de buscar fornecedores que trabalhem com formatos suportados por diversos
equipamentos, evitando restrições de leitura, e ampliando as possibilidades de
utilização pelo público. Sempre que possível, adotar obras de acesso aberto;
contratar conteúdo licenciado junto aos fornecedores que ofereçam
comercialização baseados na aquisição perpétua ou assinatura. Desta forma, uma
parcela maior de usuários será atendida e o grau de investimento poderá ser
�menor que a aquisição dos dispositivos. O cenário indica que a biblioteca deve
avaliar o procedimento a ser adotado, pois ao licenciar conteúdo com
fornecedores, os títulos digitais podem ser incluídos no catálogo e consultados
pela internet; já a opção de distribuição dos conteúdos via empréstimo dos
dispositivos pode tornar indisponíveis outras formas de acesso ao conteúdo digital.
A biblioteca deve resguardar-se nas questões de infrações na adoção do
empréstimo dos dispositivos. As discussões jurídicas podem variar de acordo com
a legislação de cada país e as pressões do mercado editorial. O entendimento
legal orienta que a biblioteca não pode emprestar os dispositivos a seus usuários,
pois estaria violando a lei de software, ao emprestar um material que é
comercializado para uso privado. Estudos sobre o tema ocorrem e no Brasil
tornam-se necessários.
Os livros digitais representam uma janela de oportunidades para as bibliotecas,
com ampliação da oferta de conteúdo e de serviços. Introduz novos aparatos
tecnológicos no processo de mediação da leitura, e propiciam uma experiência
diferenciada do processo de leitura. Também provoca a necessidade de reflexões
da parte do bibliotecário sobre os processos de gestão da informação bibliográfica,
e de sua relação com a expectativa e demanda dos usuários. Apesar dos poucos
relatos de experiências de uso de livros digitais e do empréstimo de dispositivos,
em bibliotecas brasileiras, este artigo colabora para despertar o debate do tema
entre a comunidade bibliotecária e suas entidades representativas.
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�
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The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
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CBBD - Edição: 26 - Ano: 2015 (São Paulo/SP)
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Ciência da Informação
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FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2015
Language
A language of the resource
Português
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo/SP
Event
A non-persistent, time-based occurrence. Metadata for an event provides descriptive information that is the basis for discovery of the purpose, location, duration, and responsible agents associated with an event. Examples include an exhibition, webcast, conference, workshop, open day, performance, battle, trial, wedding, tea party, conflagration.
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Empréstimos de dispositivos de leitura em bibliotecas: análise de experiências
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Serra, Liliana Giusti
Silva, José Fernando Modesto da
Coverage
The spatial or temporal topic of the resource, the spatial applicability of the resource, or the jurisdiction under which the resource is relevant
São Paulo (São Paulo)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
FEBAB
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
2015
Type
The nature or genre of the resource
Evento
Subject
The topic of the resource
Livros Eletrônicos
Empréstimo de Materiais
Description
An account of the resource
Os livros digitais estão presentes, e de forma crescente, nos acervos das bibliotecas. Contudo, sua inclusão nas rotinas bibliotecárias causa dúvidas, desde as possibilidades de aquisição, às formas de acesso e utilização pelos usuários. Pesquisa realizada, em 2010, constatou que os livros digitais estavam presentes em 72% das bibliotecas públicas norte-americanas, e 12% das bibliotecas universitárias possuíam circulação de dispositivos de leitura. O objetivo deste artigo é alertar as bibliotecas brasileiras para o processo de implantação dos livros digitais por meio de empréstimo de dispositivos de leitura. Metodologicamente, trata-se de estudo descritivo, que por meio de levantamento bibliográfico elabora revisão de literatura sobre as experiências que identificam aspectos positivos e negativos na adoção e uso de dispositivos de leitura como forma de acesso dos conteúdos digitais. Analisa-se as experiências da River Forest Public Library e Mentor Public Library (MPL). A análise dos resultados destaca a iniciativa da River Forest em separar os dispositivos por temática dos livros digitais, e o investimento em conteúdo variado. Já, os procedimentos da MPL resguardavam a biblioteca em caso da ocorrência de sinistros. As experiências comentadas reforçam as limitações impostas à aquisição do conteúdo quando o equipamento possui formato proprietário. Também é identificado aspecto legal sobre a validade para realização de circulação de dispositivos de leitura. Na discussão dos resultados, elenca-se recomendações que devem ser consideradas pela biblioteca ao optar pela implantação de serviço de empréstimo de dispositivos de leitura. As considerações finais destacam que a inclusão de dispositivos de leitura em bibliotecas e sua circulação são iniciativas interessantes que podem ser adotadas por instituições que ainda não estão familiarizadas com os dispositivos e com a experiência da leitura de livros digitais. Por outro lado, emprestar os dispositivos não pode ser visto como uma política de utilização de livros digitais.
Language
A language of the resource
pt
cbbd2015